Como ajudar os alunos a vencer a “ilusão de domínio”?

outubro 10, 2020 | Publicado por undefined.

Professores do ensino básico lidam com dificuldades em qualquer parte de sua rotina. Mas a correção de provas é duplamente desafiadora. Além da enorme carga de respostas para avaliar, existe um terrível momento da verdade: “Como é possível que esses estudantes tenham assistido à minha aula e tenham escrito essas respostas?”.

De fato, à exceção daqueles alunos e alunas que fazem nossos olhos brilhar, boa parte deles cria uma impressão de que todo nosso esforço foi em vão. Racionalmente, sabemos que não foi e que alguns conhecimentos demoram mesmo a maturar. Mas essa ponderação intelectual nem sempre altera nossa sensação momentânea. E aí, sem ter como desanimar diante das aulas já no dia seguinte, muitos professores se lançam naquilo que imaginam ser a solução para o problema: a didática. E tentam criar formas ainda melhores de comunicar e se fazer entender.

Muito provavelmente, vão conseguir diminuir em um pequeno grau o abismo da incompreensão. Mas, se já estavam se esforçando antes, é provável que as eventuais inovações adicionais terão efeito limitado. Mas por quê? A resposta é simples (sem ser simplista): talvez estejamos olhando para um sintoma, sem examinar outras causas e fatores do problema.

Investigando a "ilusão de domínio"

Façamos uma investigação mais cuidadosa, começando pela dúvida originária: por que os estudantes parecem não assimilar boa parte do conteúdo que seus professores tentam transmitir em sala de aula? E por que isso acontece mesmo nos casos de profissionais talentosos, com ótima comunicação e uso de recursos didáticos sofisticados?

Para a ciência do aprendizado, é possível que estejamos diante de um problema já conhecido: a chamada "ilusão de domínio". Trata-se da sensação (ilusória, é bom destacar) de que aprendemos algo após termos acompanhado uma exposição esclarecedora sobre o assunto. Ela ocorre quando estamos em uma situação de atividade mental passiva, acompanhando o raciocínio elaborado por outro indivíduo, seja numa aula, seja na leitura de um texto.

Esse conceito está na base da distinção entre "aprender" e "ser capaz de entender o que alguém está ensinando". Nessa última situação, somos levados a fazer sinapses de acordo com uma sequência de passos lógicos conduzidos por outra pessoa, chegando à conclusão esperada. O aprendizado efetivo, no entanto, só ocorrerá se formos capazes de estabelecer o mesmo raciocínio de forma autônoma - eventualmente também crítica e criativa.

É neste ponto que começa o problema: quanto mais didática forem as práticas de ensino, mais provável será a ilusão de domínio. E o fato de ser uma percepção ilusória cria um risco de que poucos escapam, que é o de não fazer esforço adicional para assimilar os conhecimentos e construir os processos mentais autônomos. Afinal, se o estudante acha que já entendeu a matéria, por que perderia tempo adicional?

O desafio dos conteúdos e avaliações

Uma forma de minimizar essa ilusão se encontra nas chamadas "metodologias ativas", que parecem novidade aos olhos de muitos, mas que já vêm sendo aplicadas por professores e escolas inovadoras há muitas décadas. A premissa dessa abordagem é a de que, ao engajar os estudantes em práticas nas quais eles sejam protagonistas do aprendizado, a passividade diminuirá e, com ela, o aspecto ilusório referido acima.

Embora faça sentido, esse caminho também é limitado por uma série de motivos sistêmicos, especialmente no Ensino Médio. O enorme volume de conteúdos e a grande variedade de disciplinas fazem com que o tempo necessário a práticas mais consistentes seja insuficiente - e então as aulas expositivas acabam se tornando atalhos necessários ao ensino.

Além disso, o modelo de avaliação predominante nas escolas (ancorado no Enem e nos vestibulares) torna necessário que haja foco no conteúdo, mais do que nas competências. Com isso, os incentivos extrínsecos ao estudo acabam mais ligados à obtenção de notas na demonstração desse conteúdo do que no processo de aprendizado propriamente dito.

Em parte, a nova BNCC (Base Nacional Comum Curricular), sobretudo no Ensino Médio, tenta romper com alguns desses vícios, tornando-se o ponto de partida para mudanças em todos os elementos do sistema de ensino. Materiais didáticos, novas tecnologias, treinamentos de professores, organização de currículos - em toda parte, temos assistido a intenções de mudança muito bem-vindas.

Ainda assim, o problema persistirá. E o motivo é simples: por melhores que sejam as experiências pedagógicas em sala de aula, permanece a necessidade de uma dimensão individual do esforço de estudo. E essa dimensão tem sido pouco considerada.

Aprender exige esforço individual

De fato, os mesmos neurocientistas especializados em educação que denunciam a “ilusão de domínio” nos alertam para a ideia de que, em tópicos complexos, o aprendizado só ocorre efetivamente quando há esforço deliberado e pessoal. Em outras palavras, por melhores que sejam as atividades didáticas na escola, o estudante precisa ter oportunidades para a prática individual, solitária e concentrada.

De que forma essa etapa do aprendizado ocorre na prática? Pouca gente se dedica a estudá-la. E a verdade inconveniente para muitos professores e muitas instituições é que seus alunos estão cumprindo essa função de maneira desorganizada e quase invisível. Tarefas de casa são passadas, mas como os estudantes as resolvem? Listas de tópicos de provas são indicadas, mas o que os alunos fazem quando estão em casa?

A resposta é simples: eles estão se virando como podem. Continuam precisando de notas ou exigência externa para se dedicar. Mas não têm muito a quem recorrer. O apoio dos responsáveis já não é tão disponível quanto nos anos iniciais da vida escolar. Os professores não têm como fazer atendimentos individuais fora do horário escolar. E os colegas estão perdidos da mesma forma.

Estudando essa jornada, nós constatamos o óbvio: por mais que desejemos que nossos estudantes sigam nossas instruções sobre como estudar (quando temos tempo de transmiti-las), eles usam a internet para buscar respostas. Por mais que os alertemos para o risco de confiar em “soluções mágicas” na rede, a magia é sempre atraente, sobretudo quando não existem alternativas melhores.

Percebemos também que essa procura por explicações on-line tem um outro problema, além da baixa confiabilidade das fontes. Trata-se da perda de tempo adicional por parte dos alunos. Afinal, os textos e vídeos disponíveis quase sempre seguem a mesma lógica de qualquer produto digital: são feitos para usuários em escala e querem reter sua atenção pelo maior tempo possível. Ou seja: além da superficialidade, ficam quase "enrolando" os alunos, que precisariam ser responsáveis por filtrar o que interessa.

S.O.Essia: em busca de uma nova ferramenta de apoio

Pensando nisso, a Essia fez consultas a professores de escolas de sua base e, em parceria com a Vizta Educacional, desenvolveu uma solução desenhada especificamente para o apoio aos estudantes em suas tarefas em casa. Trata-se do S.O.Essia, um conjunto de vídeos curtos, extremamente objetivos e com conteúdo construído e validado por uma equipe qualificada de professores.

A premissa na base desse novo produto é simples: a qualidade de uma boa aula presencial é insubstituível, mas os estudantes sempre terão dúvidas em seu estudo individual. E essas dúvidas quase sempre se concentram em pontos muitos específicos de cada disciplina. Assim, em vez de repetir a aula inteira, o S.O.Essia apresenta apenas aquele ponto crítico que, pelo nosso levantamento e pela experiência dos professores, é sempre o aspecto que mais causa dúvida nos alunos.

Nesta primeira fase, as disciplinas contempladas são aquelas das áreas de Linguagem (Língua Portuguesa e Produção de Textos) e Matemática. Nosso levantamento indicou cerca de 50 pontos críticos por disciplina. Para cada um desses pontos, há um vídeo S.O.Essia disponível. A ideia é que os professores façam indicações desses vídeos na plataforma Essia, quando os alunos estiverem fazendo exercícios ou estudando para as provas.

Esse novo recurso é mais uma das nossas iniciativas para ajudar instituições de ensino e profissionais da educação a cumprir sua valiosa missão educacional. A expectativa é que, ao lado de práticas pedagógicas focadas na aprendizagem (e não apenas no ensino), o S.O.Essia possa ajudar a diminuir um pouco a impressão negativa que alguns professores costumam ter na hora de corrigir as provas dos alunos. Com menos ilusão de domínio e mais aprendizado para o longo prazo, todos só têm a ganhar - principalmente os alunos.