Professores do ensino básico lidam com dificuldades em qualquer parte de sua rotina. Mas a correção de provas é duplamente desafiadora. Além da enorme carga de respostas para avaliar, existe um terrível momento da verdade: “Como é possível que esses estudantes tenham assistido à minha aula e tenham escrito essas respostas?”.
De fato, à exceção daqueles alunos e alunas que fazem nossos olhos brilhar, boa parte deles cria uma impressão de que todo nosso esforço foi em vão. Racionalmente, sabemos que não foi e que alguns conhecimentos demoram mesmo a maturar. Mas essa ponderação intelectual nem sempre altera nossa sensação momentânea. E aí, sem ter como desanimar diante das aulas já no dia seguinte, muitos professores se lançam naquilo que imaginam ser a solução para o problema: a didática. E tentam criar formas ainda melhores de comunicar e se fazer entender.
Muito provavelmente, vão conseguir diminuir em um pequeno grau o abismo da incompreensão. Mas, se já estavam se esforçando antes, é provável que as eventuais inovações adicionais terão efeito limitado. Mas por quê? A resposta é simples (sem ser simplista): talvez estejamos olhando para um sintoma, sem examinar outras causas e fatores do problema.
Façamos uma investigação mais cuidadosa, começando pela dúvida originária: por que os estudantes parecem não assimilar boa parte do conteúdo que seus professores tentam transmitir em sala de aula? E por que isso acontece mesmo nos casos de profissionais talentosos, com ótima comunicação e uso de recursos didáticos sofisticados?
Para a ciência do aprendizado, é possível que estejamos diante de um problema já conhecido: a chamada "ilusão de domínio". Trata-se da sensação (ilusória, é bom destacar) de que aprendemos algo após termos acompanhado uma exposição esclarecedora sobre o assunto. Ela ocorre quando estamos em uma situação de atividade mental passiva, acompanhando o raciocínio elaborado por outro indivíduo, seja numa aula, seja na leitura de um texto.
Esse conceito está na base da distinção entre "aprender" e "ser capaz de entender o que alguém está ensinando". Nessa última situação, somos levados a fazer sinapses de acordo com uma sequência de passos lógicos conduzidos por outra pessoa, chegando à conclusão esperada. O aprendizado efetivo, no entanto, só ocorrerá se formos capazes de estabelecer o mesmo raciocínio de forma autônoma - eventualmente também crítica e criativa.
É neste ponto que começa o problema: quanto mais didática forem as práticas de ensino, mais provável será a ilusão de domínio. E o fato de ser uma percepção ilusória cria um risco de que poucos escapam, que é o de não fazer esforço adicional para assimilar os conhecimentos e construir os processos mentais autônomos. Afinal, se o estudante acha que já entendeu a matéria, por que perderia tempo adicional?
Uma forma de minimizar essa ilusão se encontra nas chamadas "metodologias ativas", que parecem novidade aos olhos de muitos, mas que já vêm sendo aplicadas por professores e escolas inovadoras há muitas décadas. A premissa dessa abordagem é a de que, ao engajar os estudantes em práticas nas quais eles sejam protagonistas do aprendizado, a passividade diminuirá e, com ela, o aspecto ilusório referido acima.
Embora faça sentido, esse caminho também é limitado por uma série de motivos sistêmicos, especialmente no Ensino Médio. O enorme volume de conteúdos e a grande variedade de disciplinas fazem com que o tempo necessário a práticas mais consistentes seja insuficiente - e então as aulas expositivas acabam se tornando atalhos necessários ao ensino.
Além disso, o modelo de avaliação predominante nas escolas (ancorado no Enem e nos vestibulares) torna necessário que haja foco no conteúdo, mais do que nas competências. Com isso, os incentivos extrínsecos ao estudo acabam mais ligados à obtenção de notas na demonstração desse conteúdo do que no processo de aprendizado propriamente dito.
Em parte, a nova BNCC (Base Nacional Comum Curricular), sobretudo no Ensino Médio, tenta romper com alguns desses vícios, tornando-se o ponto de partida para mudanças em todos os elementos do sistema de ensino. Materiais didáticos, novas tecnologias, treinamentos de professores, organização de currículos - em toda parte, temos assistido a intenções de mudança muito bem-vindas.
Ainda assim, o problema persistirá. E o motivo é simples: por melhores que sejam as experiências pedagógicas em sala de aula, permanece a necessidade de uma dimensão individual do esforço de estudo. E essa dimensão tem sido pouco considerada.
De fato, os mesmos neurocientistas especializados em educação que denunciam a “ilusão de domínio” nos alertam para a ideia de que, em tópicos complexos, o aprendizado só ocorre efetivamente quando há esforço deliberado e pessoal. Em outras palavras, por melhores que sejam as atividades didáticas na escola, o estudante precisa ter oportunidades para a prática individual, solitária e concentrada.
De que forma essa etapa do aprendizado ocorre na prática? Pouca gente se dedica a estudá-la. E a verdade inconveniente para muitos professores e muitas instituições é que seus alunos estão cumprindo essa função de maneira desorganizada e quase invisível. Tarefas de casa são passadas, mas como os estudantes as resolvem? Listas de tópicos de provas são indicadas, mas o que os alunos fazem quando estão em casa?
A resposta é simples: eles estão se virando como podem. Continuam precisando de notas ou exigência externa para se dedicar. Mas não têm muito a quem recorrer. O apoio dos responsáveis já não é tão disponível quanto nos anos iniciais da vida escolar. Os professores não têm como fazer atendimentos individuais fora do horário escolar. E os colegas estão perdidos da mesma forma.
Estudando essa jornada, nós constatamos o óbvio: por mais que desejemos que nossos estudantes sigam nossas instruções sobre como estudar (quando temos tempo de transmiti-las), eles usam a internet para buscar respostas. Por mais que os alertemos para o risco de confiar em “soluções mágicas” na rede, a magia é sempre atraente, sobretudo quando não existem alternativas melhores.
Percebemos também que essa procura por explicações on-line tem um outro problema, além da baixa confiabilidade das fontes. Trata-se da perda de tempo adicional por parte dos alunos. Afinal, os textos e vídeos disponíveis quase sempre seguem a mesma lógica de qualquer produto digital: são feitos para usuários em escala e querem reter sua atenção pelo maior tempo possível. Ou seja: além da superficialidade, ficam quase "enrolando" os alunos, que precisariam ser responsáveis por filtrar o que interessa.
Pensando nisso, a Essia fez consultas a professores de escolas de sua base e, em parceria com a Vizta Educacional, desenvolveu uma solução desenhada especificamente para o apoio aos estudantes em suas tarefas em casa. Trata-se do S.O.Essia, um conjunto de vídeos curtos, extremamente objetivos e com conteúdo construído e validado por uma equipe qualificada de professores.
A premissa na base desse novo produto é simples: a qualidade de uma boa aula presencial é insubstituível, mas os estudantes sempre terão dúvidas em seu estudo individual. E essas dúvidas quase sempre se concentram em pontos muitos específicos de cada disciplina. Assim, em vez de repetir a aula inteira, o S.O.Essia apresenta apenas aquele ponto crítico que, pelo nosso levantamento e pela experiência dos professores, é sempre o aspecto que mais causa dúvida nos alunos.
Nesta primeira fase, as disciplinas contempladas são aquelas das áreas de Linguagem (Língua Portuguesa e Produção de Textos) e Matemática. Nosso levantamento indicou cerca de 50 pontos críticos por disciplina. Para cada um desses pontos, há um vídeo S.O.Essia disponível. A ideia é que os professores façam indicações desses vídeos na plataforma Essia, quando os alunos estiverem fazendo exercícios ou estudando para as provas.
Esse novo recurso é mais uma das nossas iniciativas para ajudar instituições de ensino e profissionais da educação a cumprir sua valiosa missão educacional. A expectativa é que, ao lado de práticas pedagógicas focadas na aprendizagem (e não apenas no ensino), o S.O.Essia possa ajudar a diminuir um pouco a impressão negativa que alguns professores costumam ter na hora de corrigir as provas dos alunos. Com menos ilusão de domínio e mais aprendizado para o longo prazo, todos só têm a ganhar - principalmente os alunos.
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