Estudantes, responsáveis, gestores, professores e demais funcionários podem se engajar nas datas comemorativas para fortalecer esse relacionamento. No entanto, o principal benefício do calendário de eventos é pedagógico: as disciplinas têm a capacidade de explorar a agenda.

As Ciências Humanas são as mais conectadas com as efemérides, mas as outras matérias também podem aproveitar tudo isso. Se à primeira vista Matemática, Física e Química parecem distantes das datas comemorativas, o trabalho dos professores é capaz de fazer essa aproximação.

Cada profissional da educação tem sua vocação — e também limitações. Embora seja importante a atitude dos professores, é necessário organizar iniciativas pontuais. Para articular todas ações, é preciso um trabalho forte de coordenação. Esses esforços são imprescindíveis.

Nada melhor do que dicas profissionais para aproveitar da melhor forma as principais datas comemorativas do calendário: Talita Marcilia, coordenadora do 9° Ano do Ensino Fundamental e do Ensino Médio do Colégio Humboldt, de São Paulo, aponta algumas alternativas aos educadores.

Então, aproveite mais este artigo do Blog da Essia!

Qual é a relevância das datas comemorativas escolares?  

As instituições de ensino têm um planejamento próprio. A programação obedece a um calendário da escola, que deve prever feriados, férias, recessos e os períodos de avaliação, por exemplo. A agenda da educação segue orientações do poder público e o regimento interno das escolas.

Diante desse cronograma, a escola também precisa ficar atenta ao que acontece na sociedade. A preocupação com as efemérides cumpre essa tarefa. Para alcançar esse objetivo, os educadores também devem se planejar. Coordenadores e gestores acompanham essa programação.

“O trabalho com as datas é um material riquíssimo para as reflexões em sala de aula. Mas nós acreditamos que, se isso fosse trazido para o ambiente escolar sem um projeto bem estruturado,  não seria significativo”, reconhece a coordenadora Talita.

As atividades com as datas comemorativas não devem ser entendidas como algo menor para a rotina dos segmentos da Educação Básica. A equipe pedagógica deve redobrar a atenção: essas iniciativas devem ser integradas ao dia a dia do Ensino Fundamental e do Ensino Médio. 

Não é possível propor atividades relacionadas ao calendário de datas comemorativas sem que haja uma profunda ligação com a realidade da comunidade escolar. Responsáveis, o quadro de funcionários como um todo e, obviamente, os alunos devem entender a importância desses eventos.

É importante conhecer o contexto dos alunos

Talita destaca a tradição germânica do Humboldt para reforçar a necessidade dessa conexão: “As datas que nós trazemos para os alunos estão alinhadas com o trabalho do corpo docente. Podemos citar a queda do muro de Berlim que, para nós como escola alemã, é muito marcante”. 

O fato de os estudantes já estarem familiarizados com o assunto faz com que o engajamento nas ações propostas pelos professores seja mais intenso. Em contrapartida, o trabalho com o tema exige que as turmas compreendam outras nuances e se aprofundem nesse fato histórico.

“Facilitou o entendimento sobre as relações com o Estado e os papéis políticos de cada uma das frentes da Alemanha naquele momento da história. Tivemos até uma encenação no dia da apresentação dos projetos escolares com a presença dos pais.”

Conhecer o contexto dos alunos é importante para identificar os dilemas com que crianças e adolescentes se deparam na rotina. Talita sublinha que essas atividades podem também colaborar para combater preconceitos e fortalecer o sentimento de igualdade entre as turmas.

“Outro evento que passa por várias interações, tanto da equipe de Língua Portuguesa quanto a das Ciências Humanas, é o Dia da Consciência Negra. A gente não deixa para falar só naquele momento: o tema do racismo estrutural e essa data são trabalhados ao longo do ano.”

Mas muitos professores ainda se questionam sobre as maneiras de tirar essas datas do calendário e fazer com que celebrações, reflexões e episódios entrem na rotina das turmas. Em meio às várias atividades que o corpo docente já realiza, não há tempo a perder.

Como trabalhar datas comemorativas com os alunos?

A tecnologia também ajuda nesse sentido. Por exemplo, para reforçar a importância do combate ao racismo, Talita explica que foram usadas ferramentas muito diferentes: “São realizados debates regrados, com apresentação de trabalhos de naturezas diversas. De podcasts a webinários”.

Para o resgate da memória sobre a Segunda Guerra, houve até mudanças na dinâmica interna. “Construímos um monumento aqui na escola. Quando pensamos que há um memorial hoje ao lado do ginásio, projetado pelos alunos, vemos que o assunto se tornou mais palpável”, pondera.

O caso do Humboldt é exemplar: os educadores podem abordar marcos históricos de diversas formas. Do ponto de vista do conteúdo, as datas são uma oportunidade para as Ciências Humanas. Mas são ocasiões oportunas também para trabalhar habilidades socioemocionais e a empatia.

“Cultura de memória pós-Segunda Guerra Mundial é outra preocupação, porque existe um compromisso da Alemanha para mitigar os horrores cometidos durante aquele período. Em anos anteriores, nós fomos reconhecidos com uma premiação internacional pelo nosso trabalho.” 

Por trás dessas atividades deve haver um fundamento pedagógico consistente. Esses eventos podem despertar também o sentimento de cidadania e de valorização dos princípios democráticos. São, portanto, ocasiões fundamentais para o desenvolvimento individual de crianças e adolescentes.

“A queda do muro é associada à História, à Filosofia e à Sociologia. Em anos anteriores propusemos que os alunos personificassem cidadãos do lado Ocidental e do lado Oriental. A ideia era que todos entendessem o que essas pessoas defendiam naquele momento”, afirma Talita.

Confira algumas ideias e sugestões da Essia!

A vivência da coordenadora Talita no colégio Humboldt, de São Paulo, colabora para tirar as dúvidas de outros educadores sobre as formas de trabalhar as efemérides nos segmentos da Educação Básica. A troca de experiências entre profissionais da educação é essencial.

O Blog da Essia preparou uma lista com outras 15 datas marcantes que podem ser aproveitadas com finalidades pedagógicas. A proposta é estimular a criatividade dos professores e incentivar atividades que permitam diálogos multidisciplinares.

A partir desses marcos no calendário, será possível abordar questões contemporâneas importantes como ecologia e meio ambiente, sexualidade e família, religiosidade, patriotismo, cidadania e a luta por direitos — todas inescapáveis no período de formação, desde a infância até a adolescência.   

Com essas ideias, a sua escola pode adaptar melhor o calendário e propor a integração com as famílias e os alunos. Então, separe a sua agenda e anote todas as sugestões que têm a ver com a sua escola!

1. Carnaval (sem data fixa, mas geralmente em fevereiro)

A maior festa popular do Brasil tem manifestações muito peculiares que devem ser aproveitadas pelos educadores na hora de propor atividades. Enquanto no Rio de Janeiro o samba é o principal ritmo carnavalesco, em Pernambuco frevo e maracatu dão o tom dos festejos.

Esses são apenas dois exemplos das expressões locais desse evento marcante na agenda da cultura popular brasileira. Fique atento para destacar essa diversidade regional com os alunos. As diferenças entre os estados são definitivas para a compreensão da realidade social do país.

2. Dia do Livro Didático (27 de fevereiro)

O hábito da leitura é proveitoso em todos os sentidos. Do ponto de vista do desempenho dos estudantes nas disciplinas, os livros fornecem o principal exercício para a concentração na infância e na adolescência. Isso ajuda muito no processo de aprendizagem. 

O costume de ler também favorece a formação de cidadãos mais conscientes. No século XXI, os livros podem ter o suporte físico, mais tradicional, ou ser digitais. A leitura em ferramentas tecnológicas é interativa e oferece os mesmos benefícios para os estudantes. 

3. Dia Internacional da Mulher (8 de março)

A luta pelo reconhecimento dos direitos das mulheres é um dos principais assuntos da política nacional. Recordar a memória de figuras históricas que militaram por essa causa é uma maneira significativa de trabalhar o dia 8 de março no Ensino Fundamental e no Ensino Médio.

A principal porta de acesso para a graduação, no Brasil, também destacou essa pauta: em 2015, o tema da redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) foi: “A Persistência da Violência contra a Mulher na Sociedade Brasileira”. Foi uma forma de reconhecer a relevância dessa pauta.

4. Dia Mundial da Água (22 de março)

A situação dos oceanos, rios e lagos é grave e requer esforços imediatos das autoridades. No entanto, a sociedade civil também precisa se organizar para propor medidas que facilitem a despoluição e evitem a escassez ou o consumo de água contaminada.

É preciso transformar a maneira como o consumo foi estabelecido nas cidades e promover atitudes mais conscientes com as novas gerações. Atividades no Dia Mundial da Água podem representar o primeiro passo para mudanças efetivas na relação entre a humanidade e o meio ambiente.  

5. Páscoa (sem data fixa, mas geralmente em abril)

A Páscoa é marcada por celebrações que reforçam a tradição cristã no Brasil. É, portanto, uma ocasião propícia para que a escola aborde a religiosidade com os alunos. Na história do país, é possível identificar a forte influência da Igreja Católica e de seus festejos ao longo do tempo.

Para além dos chocolates e ovos de Páscoa, os professores podem apresentar atividades a respeito do sincretismo e da diversidade da fé no país. Isso é uma maneira de combater a intolerância contra religiões minoritárias e promover uma cultura de tolerância e paz.  

6. Dia do Índio (19 de abril)

A colonização portuguesa deixou como legado a língua e muitos costumes que hoje fazem parte da cultura popular no Brasil. Mas o genocídio dos povos originários, que já ocupavam o território do país antes da chegada das caravelas, também é uma herança desse período.

O Dia do Índio é uma ocasião especial para recordar esse passado de violência, mas também pode ser uma oportunidade para comemorar medidas bem-sucedidas das últimas décadas para a proteção das etnias indígenas, como as políticas para demarcação de terras.  

7. Descobrimento do Brasil (22 de abril)

As escolas devem assumir a responsabilidade de preservar a identidade nacional. Cultivar hábitos tradicionais, relembrar passagens marcantes da história e enaltecer a cultura local são formas de incentivar, desde a infância, a valorização dos elementos simbólicos que compõem a nação.

O aniversário da chegada da expedição liderada por Pedro Álvares Cabral oferece uma chance para que o tema seja discutido com os alunos. O debate dos professores com as turmas pode ser iniciado como uma rápida — e complexa — pergunta: afinal, o que é ser brasileiro? 

8. Dia do Trabalhador (1º de maio)

O dia 1º de maio é comemorado de várias formas, todos os anos, em um grande número de países. As celebrações são organizadas pelo poder público, representado por governos federais, estaduais ou prefeituras municipais, e por entidades e associações da sociedade civil.

Como a data dificilmente é ignorada, as escolas podem aproveitar a ocasião para relembrar as lutas por justiça social, igualdade e liberdade ao longo da história. Essa oportunidade também permite uma abordagem multidisciplinar que integre, por exemplo, as disciplinas das Ciências Humanas.

9. Dia das Mães (sem data fixa, 2º domingo de maio)

A equipe pedagógica deve aproveitar ao máximo os momentos de convivência com as famílias. Embora os encontros muitas vezes sejam raros, é importante manter uma escuta ativa perante os responsáveis e incentivar a participação no processo de aprendizagem dos alunos.

As festas de Dia das Mães, já tradicionais na maioria das instituições de ensino, são uma chance para estabelecer relacionamentos saudáveis e proveitosos com os familiares das crianças e dos adolescentes durante os segmentos da Educação Básica.

10. São João (24 de junho)

Outro encontro dos responsáveis com o corpo docente é aquele promovido pelas festas juninas. Essas comemorações de meio de ano geralmente coincidem com o período em que é celebrado o Dia de São João — mais um traço das heranças católicas na cultura brasileira.

É muito importante trabalhar com os estudantes as peculiaridades regionais desses festejos. É outra oportunidade para destacar a riqueza cultural do país por meio das comidas típicas, dos diferentes costumes e ritmos que embalam as festas juninas ao redor do Brasil. 

11. Dia dos Pais (sem data fixa, 2º domingo de agosto)

Em agosto, é a vez de receber os pais para eventos escolares. Trata-se de outra tradição que marca presença no calendário anual das instituições de ensino brasileiras. A data proporciona também reflexões a respeito das novas configurações de família.

É preciso incentivar a tolerância e o respeito com os núcleos familiares compostos a partir de relações homoafetivas. Outras questões contemporâneas relevantes que podem ser discutidas com os alunos são a alienação parental e a masculinidade tóxica, dois problemas ainda comuns no país.  

12. Dia das Crianças (12 de outubro)

O ensino precisa manter a sua dimensão lúdica. Alunos mais velhos e até adultos também se sentem mais envolvidos no processo de aprendizagem quando as propostas pedagógicas preveem desafios. O dia a dia se torna mais estimulante quando os profissionais da educação não perdem isso de vista.

O Dia das Crianças possibilita que jogos e brincadeiras sejam inseridos no ano letivo dos alunos em um dia específico. É a chance também de trabalhar o conceito de infância com as turmas e sublinhar a necessidade de protegê-la, conforme indica o Estatuto da Criança e do Adolescentes (ECA).

13. Dia do Professor (15 de outubro)

Se as datas comemorativas são momentos em que a integração da comunidade escolar pode ser incentivada, é preciso dedicar atenção especial com o Dia do Professor. Eventos para celebrar a dedicação dos profissionais ao magistério também são uma forma de reconhecimento.

As reflexões podem ser aprofundadas para que os estudantes debatam a necessidade de melhorar a qualidade do ensino no país, por exemplo. A partir dessa discussão, os alunos se tornam mais conscientes e compreendem a relevância dos investimentos públicos em educação.

14. Dia da Proclamação da República (15 de novembro)

A noção de República vem acompanhada de valores que estruturam a democracia. Apenas há um regime democrático no instante em que cada cidadão tem consciência de que existem espaços, instituições e ideais que precisam ser compartilhados pela população de maneira igualitária e justa.

Rememorar a Proclamação da República no Brasil é trazer à tona toda essa discussão. Se as condições políticas ainda não permitem que o país desfrute de uma democracia ideal, o diálogo é a melhor forma de identificar os principais desafios e estimular a participação das novas gerações.

15. Dia da Música (22 de novembro)

Festa sem música não tem graça: não importa o ritmo, mas toda celebração precisa ser embalada por algum gênero de canções. Muitas das datas comemorativas mencionadas envolvem acompanhamento musical. E essas trilhas sonoras devem ser observadas com atenção.

O Dia da Música pode ser trabalhado por meio de atividades que despertem o interesse pelas canções ainda na infância ou na adolescência. Estudar a cultura popular é uma excelente começo para conhecer a língua e as disputas sociais travadas no interior de um país.

A programação para as datas comemorativas pode ser a chance perfeita para preparar uma abordagem multidisciplinar capaz de integrar os principais atores da comunidade escolar. Não perca essa oportunidade com a sua instituição de ensino!

7 dicas para montar o planejamento escolar!

Você tem dúvidas sobre como se preparar para o ano letivo? Clique aqui e leia o artigo da Essia com dicas para que gestores, coordenadores e professores façam um planejamento escolar que leve em consideração todos os aspectos da instituição de ensino.