Como identificar e combater o bullying na escola?

janeiro 12, 2021 | Publicado por .

 

 

Embora a comunidade escolar se esforce para manter um clima de harmonia para incentivar o processo de aprendizagem dos alunos, é possível que problemas de relacionamento apareçam nas salas de aula. Uma das questões mais preocupantes é o bullying na escola.

As interações entre os estudantes no espaço físico do colégio são fundamentais para o desenvolvimento de crianças e adolescentes. Os educadores não podem perder de vista que é nesse período também que se dá a formação de suas individualidades.

Os segmentos da Educação Básica, portanto, são o momento ideal para inspirar a autoconfiança dos alunos. Se responsáveis, gestores, professores e demais funcionários estiverem engajados nesse propósito, é mais provável que a escola alcance esse objetivo. Mas a tarefa é árdua.

Evitar casos de bullying exige que a equipe pedagógica estimule uma atmosfera colaborativa. É preciso compreender que os atores envolvidos na aprendizagem são diferentes e essenciais para que os conteúdos sejam trabalhados em sala de aula. O respeito à diferença é o primeiro passo.

A escola é composta também pelas relações humanas. Os estudantes identificam o compromisso da escola nesse sentido. A Essia reuniu algumas dicas para que os educadores se preparem para o desafio de promover um ensino inclusivo. Continue lendo e saiba mais! 

O que é o bullying?

O bullying é uma prática muito nociva que consiste em contínuas ofensas que se manifestam de maneira física, psicológica ou verbal. Ou seja: são agressões que podem se expressar por meio de estigmatizações, que têm impacto na formação da personalidade e até no corpo das vítimas.

É importante reforçar que, para que seja considerada bullying, essa forma de violência precisa ser contínua. É esse caráter sistemático que o diferencia de agressões episódicas. Outra distinção importante diz respeito à idade de quem pratica as ofensas e das vítimas.

Comportamento semelhante também aparece entre os adultos. No ambiente de trabalho, por exemplo, essa conduta recebe o nome de assédio moral. Quando ocorre no convívio de crianças e adolescentes, essas ofensas são entendidas como bullying.

O termo tem origem na palavra bully do idioma inglês, que se refere aos valentões. Essa expressão é usada em casos em que os agressores simulam ter valentia ao agredirem as vítimas. No entanto, esse é um ato, acima de tudo, de covardia.         

Quais atitudes podem ser consideradas como bullying na escola?

Os indícios de bullying vão desde fatos mais evidentes até sinais quase imperceptíveis. Por isso, os educadores precisam ter atenção redobrada diante do desafio de identificar os casos. Abaixo, serão destacados quatro tipos comuns de ofensas.

  • Físico: podem ser divididos em corporais ou materiais. Enquanto o primeiro afeta a integridade das vítimas, o segundo tem como alvo objetos e utensílios. Costumam ser mais perceptíveis, embora também existam formas de esconder as agressões;

  • Verbal: quando se manifesta por meio de palavras. Pode aparecer por escrito, na forma de bilhetes ou cartas ofensivas, ou em discussões e xingamentos. Apesar de serem comuns estranhamentos durante a convivência, a troca de insultos deve sempre despertar o olhar atento dos educadores;

  • Intimidatório: pressiona a vítima para que haja um desconforto no convívio com os demais alunos no ambiente escolar. Provoca a reclusão e o incômodo diante dos colegas. Esse tipo de bullying se expressa, principalmente, a partir de duas formas: moral ou social;  

  • Cyberbullying: utiliza novas tecnologias para fazer com que as ofensas circulem. Isso tem impactos decisivos para a saúde mental, principalmente com vítimas no período da infância e da adolescência. Vale ressaltar ainda que o bullying psicológico existe também fora do ambiente digital.

Principais causas do bullying na escola

Os estudantes costumam reproduzir hábitos que veem em casa. A primeira referência é a familiar — esse é o motivo para que os responsáveis se esforcem para manter um clima de respeito e harmonia entre si. Toda a comunidade escolar precisa compartilhar essa preocupação.

A Educação Básica é o momento em que a personalidade dos alunos se desenvolve. Surgem assim as diferenças nos aspectos físicos e de comportamento. Isso tende a ficar nítido na convivência. É também nesse período que crianças e adolescentes devem exercitar aprender a tolerância.

As diferenças não devem incentivar ofensas, mas estimular uma convivência inclusiva. Os esforços nesse sentido contribuem para construir uma atmosfera colaborativa, muito importante para a educação. Além disso, ajuda até no fortalecimento do sentimento de cidadania.

5 consequência do bullying na vida do aluno

Os efeitos nocivos se espalham na vida da vítima. A convivência com os colegas se torna um incômodo. E isso não se restringe ao cotidiano com os próprios agressores, que já é muito desagradável: compartilhar a rotina escolar com os demais colegas também passa a ser complexo.

Por conta da gravidade desse problema, esses desdobramentos se expressam de diversas formas. A capacidade que as redes sociais têm de agilizar a comunicação pode contribuir para que os estragos causados pelo bullying tenham duração ainda maior.

Entenda as consequências dessa forma violência para o rendimento acadêmico e para o próprio desenvolvimento pessoal dos alunos.

1. Prejudica o processo de aprendizagem dos estudantes

O ambiente escolar é decisivo para que o conhecimento floresça. A visão de que apenas a sala de aula é o lugar privilegiado para o processo de aprendizagem foi superada: a estrutura da instituição de ensino como um todo é decisiva nesse sentido.

A construção de uma atmosfera colaborativa é afetada diretamente pelo bullying. Além da falta de interesse por parte da vítima em tudo que remete ao ensino, essas agressões também desenvolvem um clima desconfortável nos demais alunos. As escolas perdem o sentido para os estudantes.

A queda no rendimento das vítimas é muito perceptível. Inicialmente, surge uma dificuldade para se  concentrar nos conteúdos trabalhados em sala de aula. Posteriormente, o desinteresse pela escola como espaço de convivência intensifica esse distanciamento com as disciplinas.

2. Torna o ambiente escolar hostil e leva à evasão escolar

A queda de rendimento é, simultaneamente, causa e efeito nos casos de bullying. Isso porque é o resultado do impacto das ofensas que provoca a evasão escolar. Ao mesmo tempo, o baixo rendimento pode impulsionar os alunos a abandonarem o colégio.

Ao perceberem que não conseguem acompanhar as aulas como antes, os estudantes decidem deixar de frequentar o colégio. Se não houver uma rede de proteção na comunidade composta por responsáveis, educadores e gestores, é possível que essa atitude seja irreversível. 

Quando os agressores percebem que nada é feito para o combate à intolerância, os casos tendem a se multiplicar. A responsabilidade é de todos os atores envolvidos no processo de aprendizagem. Menosprezar os episódios de ofensas, portanto, apenas intensifica esse problema.  

3. Pode chegar ao ambiente virtual

No entanto, o fato de abandonar a escola não gera segurança para as vítimas de bullying. A violência tem impacto social e se espalha por todas as redes de relacionamento. Em vez de confortar o aluno, o isolamento aprofunda o sentimento de reclusão em um mundo atravessado pelas redes sociais.

O controle sobre as mensagens na internet é quase impossível. Enquanto as autoridades repensam modelos para evitar calúnias e desinformação nessas plataformas, pais e educadores se esforçam para diminuir essas consequências para a vida de crianças e adolescentes.

Os insultos podem circular com facilidade pelo ambiente digital. Dessa forma, além de se distanciarem de profissionais que poderiam oferecer apoio e dos próprios amigos, os estudantes continuam a conviver com as ofensas. A situação se torna ainda mais complicada.

4. Ameaça para a saúde física do aluno

A violência não se restringe aos ataques verbais. É possível que, a partir da negligência da comunidade escolar e da insistência dos agressores, a integridade física dos alunos comece a correr perigo. As ameaças podem se concretizar, não é permitido ignorá-las.

Geralmente, as agressões se dão em conjunto. Isso impede qualquer tipo de defesa e aumenta a situação de vulnerabilidade da vítima. Os atos de covardia podem ter consequências de longa duração para a saúde do aluno se nenhuma atitude for tomada.

É importante perceber pequenos hematomas ou marcas de violência, mesmo que pareçam muito sutis no primeiro momento. Esses sinais podem servir de alerta e evitar novos episódios. A reação a tempo é capaz de impedir desdobramentos negativos para a saúde mental.

5. Deixa marcas e sequelas psicológicas

As escolas são compostas por equipes multidisciplinares. No quadro de funcionários não há somente profissionais com formação na área de educação. Existem também funcionários com experiência em outros campos de conhecimento, como nutrição e psicologia.

Isso não é à toa. É preciso que a ação em alguns casos seja integrada, como acontece nos episódios de bullying. Os efeitos para a saúde mental são tão sérios que é necessário que a comunidade escolar procure ajuda especializada para o tratamento.

Os especialistas afirmam que há registros de depressão, fobias e outros distúrbios por conta de atos de violência sofridos nos períodos da infância e da adolescência, porque é nesse momento que as personalidades se desenvolvem. 

Como a comunidade escolar pode identificar e combater o bullying?

Com todas essas consequências negativas, o bullying precisa ser algo a ser combatido com veemência pelos educadores. Não se trata de uma preocupação menor: como profissionais voltados para a formação de futuros cidadãos, o tema deve ser encarado como algo central para a escola.

Por isso é importante buscar aliados para essa tarefa. As famílias são agentes imprescindíveis para evitar casos desse tipo no ambiente escolar. Os demais funcionários também podem colaborar muito ao relatar episódios de violências e dialogar com os outros setores da instituição de ensino.

Pensando nisso, confira no infográfico abaixo, as principais características que podem ser notadas nos agressores e nas vítimas de bullying. É importante conhecer para saber identificar cada uma delas:

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Agora que você já sabe identificar o comportamento tanto das vítimas quanto dos agressores, a  Essia separou 5 dicas para orientar a ação da comunidade escolar no combate ao bullying. Continue sua leitura!

Treinar a equipe pedagógica e demais colaboradores para identificar o problema

O bullying deixa sinais espalhados pelo ambiente escolar. Desde os indícios mais evidentes, como marcas e hematomas, até os menos eloquentes, como objetos e utensílios das vítimas quebrados pelos agressores. Nada disso pode ser ignorado pelos funcionários.

Os profissionais que trabalham em instituições de ensino não devem ser somente especializados em determinada disciplina ou nos próprios afazeres diários. É preciso que estejam preparados para lidar com outras nuances da vida social de crianças e adolescentes durante a Educação Básica.

Ajudar a desenvolver relacionamentos também é função dos professores. As ofensas verbais ou os episódios de violência física são um desafio que precisa ser superado também pela equipe pedagógica. Apenas uma ação integrada é capaz de reverter esse quadro.

A capacitação dos profissionais é a melhor maneira de organizar o combate ao bullying. Como ninguém pode negligenciar as agressões, oferecer treinamentos para a equipe é uma estratégia interessante para lidar com esse problema. 

Promover a aproximação entre pais, alunos e professores

O conceito de comunidade escolar não é irrelevante para a realidade de todos que participam da instituição de ensino. Sob essa expressão estão os principais atores que influenciam no processo de aprendizagem. Todos têm uma função importante nesse período de formação.

Os alunos, obviamente, devem ser entendidos como os principais agentes. Mas os pais desempenham um papel fundamental para que os estudantes aprendam e construam suas próprias personalidades, da Educação Infantil ao Ensino Médio.

Os responsáveis precisam se aproximar da equipe pedagógica para que o combate ao bullying seja bem-sucedido. Nada adianta se apenas a escola se esforça para criar uma atmosfera de tolerância, enquanto em casa a família considera o ato de insultar algo banal.

É por isso que a integração da comunidade escolar define o sucesso das medidas para combater essa expressão da violência no colégio. Quando as ações têm coesão, as vítimas se sentem mais protegidas. Os agressores, por outro lado, ficam mais intimidados.

Dar atenção também aos agressores

A escola precisa fugir de maniqueísmos: no trabalho com crianças e adolescentes, não deve haver vilões ou mocinhos. O objetivo é desenvolver as capacidades das turmas sem deixar nem ao menos um estudantes para trás durante os segmentos da Educação Básica.

Os agressores não devem ser detestados ou deixados de lado no processo de aprendizagem. É importante fazer atividades para integrá-los novamente às turmas depois que reconhecem os erros e mudam de postura com os seus colegas. Esse é o período certo para a mudança de comportamento.

As atitudes dos alunos são atravessadas pelo contexto em que vivem. Por assistirem a atos de violência dentro de casa, na rua e até na própria escola, os estudantes tendem a reproduzir episódios de intolerância contra os colegas.

Em vez de reforçar o sentimento de humilhação envolvido nos casos de bullying, a equipe pedagógica precisa trabalhar para estimular o diálogo. Isso é interessante para as vítimas, mas também colabora para alterar a mentalidade de quem comete esses atos de violência.

Criar uma Política de Combate ao Bullying na instituição

É preciso que a escola deixe claro o interesse em combater o bullying. A vontade de profissionais isolados ou o interesse dos pais para ajudar não será suficiente caso não haja a organização das ações nesse sentido por parte da instituição de ensino.

Ao determinar que essas ofensas não serão toleradas e que inibir atitudes discriminatórias é uma prioridade, a gestão escolar deve passar para a etapa seguinte: elaborar medidas práticas, com efeito na rotina dos estudantes. Abstrações não surtirão efeito.

Redigir uma cartilha contra essa forma de violência é uma boa ideia. O texto deve levar em consideração a realidade local, as especificidades socioeconômicas e geográficas da escola. Estabelecer campanhas é outra alternativa. Nesse sentido, a tecnologia pode ser uma aliada.

Se a internet impulsiona informações falsas, ofensas e insultos, a capacidade de circulação que as redes sociais promovem pode também ser usada para boas causas. Assim, a campanha anti-bullying pode ser compartilhada por educadores e estudantes em ambiente digital.

Desenvolver a inteligência emocional dos alunos

Mobilizar a comunidade escolar para o combate ao bullying tem desdobramentos reais sobre a maneira pela qual a formação de crianças e adolescentes é encarada. Em vez de um enfoque conteudista, a instituição é reconhecida por ter uma abordagem mais abrangente.

Em outras palavras: os segmentos da Educação Básica passam a ser entendidos como períodos para o desenvolvimento de habilidades que transcendem até os conteúdos trabalhados pelas disciplinas em sala de aula. É preciso levar em consideração a dimensão socioemocional dos alunos.

A inteligência emocional pode ser estimulada pela equipe pedagógica. A primeira consequência desse esforço é o aumento da autoconfiança dos alunos. No caso do bullying, tanto agressores quanto vítimas costumam sofrer com fragilidades e baixa autoestima.

Aquele que pratica esses atos de violência precisa se mostrar forte perante os colegas muitas vezes porque a sua personalidade, ainda em construção na infância e na adolescência, é vulnerável. Em contrapartida, quem sofre vê suas fragilidades ainda mais expostas socialmente.


O bullying é um desafio diário que precisa ser prioridade para toda a comunidade escolar. Embora deva ser encarado com seriedade, há atitudes que podem reverter o quadro e estimular um ambiente de cooperação entre todos os estudantes.

Saiba mais sobre a Inteligência Emocional na escola

As habilidades socioemocionais são também chamadas de soft skills. Saiba mais sobre como investir na capacidade dos alunos para tomar decisões clicando aqui!